O sobrado da Fazenda Camuciatá do Barão de Jeremoabo, localizado a cerca de nove quilômetros da sede do município de Itapicuru, no Território de Identidade Litoral Norte, está sendo restaurado. A recuperação, em fase inicial, foi viabilizada pelos editais do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), que auxiliam a política pública da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) na preservação do patrimônio cultural baiano.

Tombado pelo Ipac, em 1994, o casarão datado de 1894 pertenceu à Casa da Torre e foi uma das sedes da luta pela Independência do Brasil, em Itapicuru, situado a 227 quilômetros de Salvador. A obra está orçada em R$ 499,9 mil e deverá ser executada, em até seis meses, para conter a degradação física do monumento. “Pretendo transformar esse prédio no Museu do Nordeste”, disse o atual proprietário, Álvaro Dantas, descendente do Barão de Jeremoabo.

O casarão foi construído, entre 1888 e 1894, por Cícero Dantas Martins, Barão de Jeremoabo, deputado do império, senador estadual e um dos responsáveis pela edificação do Engenho Central do Bom Jardim, em Santo Amaro. Segundo Dantas, “após as obras e a implantação do museu, pretendo abrir a edificação para visitação do sítio histórico, promovendo acesso à cultura, fortalecendo a cidadania e divulgando a história regional e do estado da Bahia”.

Objetivos dos editais - O diretor geral do instituto, Frederico Mendonça, explicou que os editais possibilitam a participação efetiva da sociedade civil nas políticas culturais. “Um dos objetivos da iniciativa é apoiar projetos de restauração de bens edificados, já tombados e reconhecidos pela sua importância e singularidade, como a Casa de Engenho do Barão de Jeremoabo”. Para ele, os editais garantem ferramentas transparentes e democráticas na distribuição de recursos públicos. De acordo com Mendonça, de 2009 a 2011, foram contemplados 73 projetos, o que representa investimento da ordem de R$ 2 milhões do Fundo de Cultura da Bahia.
HISTÓRICOEm 15 de outubro de 1754, o Engenho Camuciatá, propriedade que pertencia à família da Casa da Torre – do castelo Garcia D’Ávila em Praia do Forte – foi vendido ao português Baltazar dos Reis Porto. Outro proprietário, o capitão-mor João d’Antas, teve participação na Independência da Bahia (1823), fazendo do local quartel que recebeu o general Labatut e organizou batalhão de 500 homens para aclamar D. Pedro I, imperador do Brasil, em Cachoeira. A ideia do proprietário é implantar o Museu do Nordeste envolvendo esferas públicas e privadas, ativando áreas do turismo, educação, meio ambiente, saúde, segurança, cultura e entretenimento. A intenção é ter espaço para lazer, cultura e ações educativas, enriquecendo e desenvolvendo a cultura da região com eventos, cursos, palestras e exposições. ITAPICURU é um nome tupi que significa “laje carouçuda” em função de rochas da região. Antigo povoamento indígena, habitado por Kariris, Payayás e Tupinambás, o local teve seus primeiros habitantes europeus nos séculos 16 e 17 com desbravadores portugueses e distribuição das sesmarias. A missão franciscana é de 1636, denominada Saúde ou de Santo Antonio, quando foi erigida capela (1698). É considerado um dos municípios mais antigos da Bahia e surgiu a partir de 1728. Em 1876 foi visitado por Antônio Conselheiro e seus seguidores.
Estilo neoclássico - O imóvel, em estilo neoclássico, detém acervo composto de mobiliário antigo, arte sacra, pratarias, quadros, objetos de arte decorativa, documentos e indumentárias, datados dos séculos 18 e 19. Projetado pelo engenheiro baiano José Ramos, o prédio lembra uma pequena vila toscana com hall central e planta simétrica.

No andar superior ficam salas, quartos e capela com imagens barrocas. Já, no inferior, estão sala de jantar, outros quartos, cozinha e escada em jacarandá. Cristais, lustres, retratos a óleo, jarras, bacias e utensílios de louça portuguesa completam o acervo, além de livros em francês e português, cartas, mapas e selos.

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